Gely Arruda

Contos e Poesias

Textos

Tudo acabou, ou melhor recomeçou tudo.
               Naquele plenário 03 do Forum da Barra Funda de São Paulo, mais um dia de rotinha, a sala é preparada para mais um julgamento.
               Mila, chega meio assustada, senta na platéia, são quase 14:00 horas, o julgamento já iria começar, aos poucos instantes estaria frente a frente com o assassino do seu marido, era a principal testemunha, pois tinha visto tudo com nitides.
               Recordava como se tudo tivesse acontecido naquele momento, quando aquele homem sem piedade matou Bento, na sua frente, sua mente voltou ao passado.
               Vivia num inferno com Bento, que a espancava, levava mulheres na sua casa e transava com elas na frente de Mila.
               Quantas vezes Bento não a humilhou, ameaçava de morte e muitas vezes tentou matá-lo, mas Bento era esperto e ela acabava perdendo, Bento a estuprava na frente dos filhos.
               A entrada do réu interrompeu os pensamentos de Mila, ali estava o homem que deu a ela a liberdade de viver em paz.
               Tinha feito que ela tantas vezes tentou fazer, Bento era estúpido, ignorante, vivia arrumando confusão, mexia com a mulher dos outros, chamava todo mundo pra briga, e não faltava quem quisesse apagar Bento.
                Mas estava ali como testemunha ocular do crime e tinha que cumprir sua obrigação com a justiça, falando a verdade, narrando
o fato daquela noite.
                Seu depoimento era necessário para aquele homem ir para a cadeia e pagar pela morte de seu marido, mas ela podia estar ali no lugar dele como ré se tivesse conseguido matar Bento.
                No depoimento o réu nega a acusação, questionado sobre outros delitos, confessa que os tinha cometido, mas que daquela morte era inocente.
                Mila, pensa, que mentiroso, pois viu muito bem quando ele atirou em Bento, quando passou de moto em frente a sua casa,
onde estava sentada na calçada.
                Mila é chamada para depor, o Juiz pergunta se ela quer que o réu se retire para que ela possa prestar seu depoimento, Mila diz que não.
                Conhecia o réu de passagem, porque viviam no mesmo bairro e que sobre o fato não podia falar nada, porque não viu o ocorrido, pois foi tudo muito rápido, 02 motoqueiros, parou em frente a sua casa e dispararam tiros, não deu para ver quem era pois usavam capacetes, sua preocupação foi com seu filho, ao ouvir os tiros pegou o menino e tentou protegê-lo dentro de casa.
                Depois quando saiu no portão, viu seu marido caido, o qual já estava morto.
                Disse tudo com precisão e muita calma, não ia ser responsável pela prisão de uma pessoa que indiretamente colaborou para que ela fosse feliz, porque já estava casada com outro e estava muito bem.
               O Juiz perguntou, porque então na delegacia no seu primeiro depoimento, ela declarou ter visto o crime. Ela disse que estava bastante nervosa, viu o crime sim mas não os autores e que naquele dia não tinha condições psicológicas para testemunhar nada.
              O advogado de defesa, pediu a absolvição do réu, alegando que tudo não passou de uma armação contra seu cliente.
              O promotor pediu a condenação máxima, uma vez que o réu já estava preso, por tentativa de homicídio e tinha outro processo por assalto.
              O Juri o condenou, pois o Tribunal é um teatro, onde vence quem melhor representa e o promotor foi um execente ator.
              O Juíz fixou a pena em 20 anos de reclusão em regime inicial fechado.
              Mila saiu do plenário, aliviada não tinha contribuido para a sentença, mas Deus fez a justiça a sua maneira, agora só restava esquecer o passado e viver intensamente e ser feliz.
              Do lado de fora do forum, estava Mário seu atual marido e seus filhos, se juntou a eles e disse tudo acabou, ou melhor recomeçou tudo e deixou aquele forum um passado triste e infeliz.
Gely Arruda
Enviado por Gely Arruda em 01/01/2008
Alterado em 12/01/2008
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